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Em busca da mente

Uma Conversa Intrigante: Encontro entre uma Dominatrix e uma Psicanalista

Esta introdução estabelece um cenário para uma discussão profunda e reveladora, preparando o leitor para explorar a complexidade das dinâmicas de poder e submissão através das lentes da psicanálise e da experiência prática dentro da comunidade de dominação feminina.

Psicanalista: Interessante ouvir sua observação sobre a dinâmica de poder e submissão fora dos contextos tradicionais. A partir da perspectiva psicanalítica, poderíamos explorar a ideia de que o desejo de submissão em indivíduos com posições de poder, especialmente aqueles que aderem a valores conservadores, pode ser visto como uma forma de lidar com o peso das expectativas sociais e pessoais.

Dominatrix: Exatamente, eu vejo isso como uma fuga da constante pressão para se manter no controle, uma forma de libertação da rigidez de seus papéis diários. É como se, em segredo, eles desejassem experimentar o outro lado do espectro do poder, algo que contradiz diretamente suas personas públicas.

Psicanalista: Moar, sua teoria toca em um ponto fundamental da psicanálise, que é o conflito entre o desejo reprimido e a identidade socialmente construída. Freud falaria sobre o retorno do reprimido, onde desejos não expressos encontram saídas em comportamentos inesperados ou em contextos onde o indivíduo se sente seguro para explorá-los.

Dominatrix: Isso faz sentido. E pelo que observei, essa “libertação” não é só uma questão de prazer, mas também uma necessidade psicológica profunda, uma maneira de equilibrar suas vidas extremamente controladas e, por vezes, repressivas.

Psicanalista: Exatamente. E essa necessidade de equilíbrio pode ser mais intensa em indivíduos cuja vida pública exige uma adesão estrita a normas e valores conservadores. Isso não significa que todos os homens conservadores expressarão esses desejos da mesma maneira, mas sugere uma complexidade nas experiências humanas que desafia categorizações simples.

Dominatrix: Interessante ver como isso se alinha com o que observamos na prática. Mesmo que essas sessões sejam vistas como uma forma de terapia alternativa por alguns, é evidente que há uma busca por algo mais profundo, um desejo de entender e aceitar partes de si mesmos que normalmente mantêm ocultas.

Psicanalista: Absolutamente. E o papel de profissionais como nós, seja no contexto terapêutico ou em práticas de dominação consensual, é oferecer um espaço seguro para essa exploração, onde o julgamento é suspenso e a compreensão e aceitação de si mesmo pode ser aprofundada.

Este diálogo hipotético busca respeitar a complexidade dos temas abordados, mantendo o foco na exploração psicológica e evitando generalizações ou afirmações que possam ser vistas como estigmatizantes ou simplistas.

Psicanalista: Além disso, Moar, você mencionou um ponto intrigante sobre a estética e a autoridade visual das dominadoras. Como você vê a influência dessa imagem na atração desses homens conservadores?

Dominatrix: Sim, isso é fundamental. O estilo e a presença imponente das dominadoras, essa autoridade inquestionável que elas projetam, é parte do que os atrai. Há uma espécie de fascínio pela força e pelo poder que contradiz a imagem tradicionalmente mais reservada e contida que eles próprios devem projetar.

Psicanalista: Isso ressalta uma dinâmica interessante entre a representação externa do poder e a experiência interna do mesmo. Freud talvez argumentasse que essa atração é uma manifestação do desejo de subverter as próprias normas internas, uma forma de jogar com os papéis de poder de uma maneira que é socialmente inaceitável em seus círculos habituais.

Dominatrix: Exatamente. E essa contradição entre o que é publicamente aceito e o que é secretamente desejado cria um espaço único para a expressão de desejos reprimidos. A aparência física e a postura das dominadoras atuam como um gatilho visual para a liberação desses desejos, oferecendo uma experiência que é tanto esteticamente quanto emocionalmente carregada.

Psicanalista: A estética, portanto, não é apenas superficial, mas carrega uma carga simbólica profunda, funcionando como uma chave que desbloqueia aspectos reprimidos do psiquismo. Isso sugere que a atração vai além do físico, tocando em necessidades psicológicas complexas que envolvem poder, controle e, paradoxalmente, a entrega desses mesmos elementos.

Dominatrix: Sim, e essa complexidade é o que torna a dinâmica tão fascinante. Não se trata apenas de uma preferência estética, mas de como essa estética se entrelaça com necessidades psicológicas profundas e desejos não expressos, criando um espaço onde esses homens podem explorar partes de si mesmos de uma maneira que não encontram em outros aspectos de suas vidas.

Psicanalista: Portanto, a atração por dominadoras, com seu estilo particular e autoridade visual, pode ser vista como uma expressão da luta interna entre conformidade e desejo, entre o eu público e o eu privado. Esse é um exemplo claro de como os aspectos visuais e simbólicos podem desempenhar um papel crucial na psicodinâmica da submissão e do poder.

Psicanalista: A sua observação nos convida a uma análise mais matizada do conservadorismo, não apenas em termos de dinâmicas de poder pessoais, mas também como uma postura perante a vida e a mudança. Freud, em seu tempo, também estava muito interessado na forma como as sociedades e os indivíduos lidam com a mudança e a tradição. Ele poderia ver a adesão ao conservadorismo como uma tentativa de equilibrar o desejo humano por segurança e estabilidade com a inevitável força da mudança.

Dominatrix: Interessante. Então, a partir dessa perspectiva, a submissão que observei pode ser entendida não apenas como uma característica pessoal ou uma escolha estética, mas como parte de um processo mais amplo de negociação com o mundo, uma forma de lidar com a tensão entre o passado e o futuro.

Psicanalista: Exatamente. O que você descreve como submissão pode, de fato, ser uma expressão dessa tensão. A busca pela dominação feminina, nesse contexto, pode ser vista como uma maneira de experimentar conscientemente a entrega do controle, algo que, paradoxalmente, oferece uma forma de segurança emocional num mundo percebido como incerto e em constante mudança.

Dominatrix: Isso amplia a forma como vejo a relação entre conservadorismo e submissão. Não se trata apenas de uma questão de desejo sexual reprimido, mas de uma complexa interação entre segurança, mudança e identidade.

Psicanalista: Sim, e é aqui que a psicanálise pode oferecer insights valiosos. O conservador, ao se engajar em práticas de submissão, pode estar inconscientemente procurando reconciliar essas forças aparentemente opostas: a necessidade de manter a continuidade com o passado e a inevitável atração pelo novo e pelo desconhecido. Assim, a prática da submissão torna-se um espaço simbólico onde essa tensão é explorada e, de certa forma, resolvida

Dominatrix: Portanto, o que inicialmente pode parecer como uma contradição ou uma falha na persona conservadora, na verdade, revela uma complexidade e uma busca por equilíbrio que são inerentemente humanas.

Psicanalista: Exatamente. E reconhecer essa complexidade não apenas nos ajuda a entender melhor as motivações e comportamentos aparentemente contraditórios, mas também abre caminho para uma abordagem mais empática e menos julgadora na análise das dinâmicas humanas de poder e submissão. Afinal, como você bem pontuou, a submissão e a cautela que observamos podem ser vistas como respostas adaptativas à fragilidade e à incerteza, características fundamentais da condição humana.

Psicanalista Psicóloga

Fabiana Villela

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